terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Estudo de monitoramento aponta baixos índices de qualidade das águas em bacias hidrográficas de Manaus

 

Por Hamilton Leão


    Um estudo de monitoramento do índice de qualidade das águas das bacias hidrográficas de Educandos e de São Raimundo feito pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA apresentou má qualidade da água em sua grande maioria.  

    Ao longo das duas bacias, 46 pontos de coletas da qualidade das águas, distantes mil metros entre si foram analisados durante os meses de fevereiro, julho e outubro de 2020. Na bacia de Educandos, com dimensão de 47 km2, 14 pontos de coletas foram feitas e apresentaram resultados de sete coletas péssimas e sete ruins.

    Na bacia de São Raimundo, com dimensão de 122 km2, os resultados das análises de 32 pontos de coleta foram classificados como seis péssimas; 20 ruins; quatro razoáveis e um bom, esse localizado na nascente do igarapé do Mindu.

    As análises dos pontos de coleta foram baseadas no Índice da Qualidade das Águas (IQA), recomendado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e na Resolução CONAMA 357/2005, que estabelecem parâmetros físico-químicos para avaliação da qualidade das águas, como Oxigênio Dissolvido, Coliformes termotolerantes, Potencial Hidrogeniônico (pH), Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), Temperatura da água, Nitrogênio Total, Fósforo Total, Turbidez e Resíduo Total.

    De acordo com a ANA, o IQA foi desenvolvido para avaliar a qualidade da água bruta visando seu uso para o abastecimento público, após tratamento. Os parâmetros utilizados no cálculo do IQA são em sua maioria indicadores de contaminação causada pelo lançamento de esgotos domésticos.

    O órgão reconhece que a avaliação da qualidade da água obtida pelo IQA apresenta limitações, já que este índice não analisa vários parâmetros importantes para o abastecimento público, tais como substâncias tóxicas (ex: metais pesados, pesticidas, compostos orgânicos), protozoários patogênicos e substâncias que interferem nas propriedades organolépticas (cor, brilho, odor, sabor e textura) da água.

    As análises químicas efetuadas no laboratório da instituição, sobretudo nos pontos de coletas com índice de qualidade péssima demonstraram presença de metais e não metais em grande quantidade, tais como Cálcio, Ferro, Sódio, Magnésio, Potássio, Sódio, Fósforo, Silício, Enxofre e Iodo.  

    Em menor quantidade, os elementos químicos Alumínio, Boro, Bário, Berílio, Cobre, Érbio, Estrôncio, Gadolínio, Índio, Manganês, Titânio, Ítrio e Zinco também fazem parte da carga tóxica lançada diariamente nos igarapés das duas bacias hidrográficas de Manaus por meio de esgotos domésticos e industriais.   

    No estudo, o ponto de coleta de n° 46 (cor amarela) chama atenção pela sua classificação razoável no quesito de qualidade da água, pois está situado próximo a orla do rio Negro, frente ao prédio histórico da antiga cervejaria Miranda Correa, local de desague de toda carga orgânica da bacia de São Raimundo. 

    Questionado ao que deve esse fato de um ponto está com sua análise razoável em meio a tantos outros de conceitos péssimo ou ruim, o coordenador da pesquisa, Prof. Dr. em Química, Sérgio Duvoisin Junior esclarece que o fato se dá em função da relativa capacidade do rio Negro de depurar os efluentes lançados, porém não é para sempre essa diluição e se não houver cuidados e zelo com os rios da região chegará o tempo de sua exaustão. Salienta também que através desse estudo busca-se formar uma consciência e mostrar que tudo não é infinito e a população deve desmistificar essa ideia que tudo pode ser jogado nos rios e igarapés da Amazônia devido aos seus grandes volumes d’água.

    Finaliza alertando que deve haver uma responsabilidade com as futuras gerações, porque embora diminua a carga poluente do ponto em questão não significa que sumiu os poluentes, apenas diminuiu e se acumula gradativamente. A forma correta seria não lançar esses efluentes nas águas sem antes passar por um tratamento adequado.   

    Em tempo de pandemia, a presença de grande carga orgânica e de elementos químicos nas águas de igarapés e rios é uma preocupação a mais para a saúde pública, principalmente pela facilidade do ser humano ser contaminado por diversas doenças de veiculação hídrica. Outra inquietação se dá devido à completa mortandade de toda vida marinha que habitavam esses recursos hídricos, além do aspecto desolador que esses igarapés transmitem com a poluição visual em função da alta carga de lixo depositada em suas águas.    

 

Projeto financiado pelo Governo

    O Projeto de monitoramento e análise da qualidade das águas das duas bacias hidrográficas foi financiado pelo Governo do Estado do Amazonas, por meio do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim), Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), Universidade do Estado do Amazonas (UEA/CAQ), Fundação Universitas de Estudos Amazônicos (FUEA) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

    No programa de recuperação ambiental dos igarapés já foi investido a significante quantia de U$1 bilhão (algo em torno de cinco bilhões de reais) e não conseguiu ser implantadas estações de tratamento de esgoto nos conjuntos habitacionais erguidos, locais esses construídos sobre igarapés aterrados e que margeiam bacias hidrográficas da cidade.   

    As analises foram feitas por pesquisadores da Central de Análises Química, um grupo de pesquisa química aplicada á tecnologia pertencente a UEA, com uma equipe técnica formada por químicos, físico, biólogos, biotecnologista, engenheira ambiental, geógrafo e técnicos em Química. Mais informações sobre o projeto e detalhamento dos pontos de análises coletados estão disponíveis na página eletrônica da UEA, no link  https://sites.google.com/uea.edu.br/qualidade-da-agua-prosamim/resultados?authuser=0

    Os estudos nas duas bacias seguem até o ano de 2021, mas será necessário um aporte financeiro para a continuidade das pesquisas nas demais bacias urbanas de Manaus e das bacias hidrográficas dos municípios do Estado do Amazonas.


                                                                                                                                                               Foto: Valter Calheiros

                             Águas das bacias são sufocadas por carga de lixo doméstico e industrial e por uma variedade de elementos químicos 

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